Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Cidade Inconstante


Reclama que nas esquinas, onde os enamorados marcavam encontros, só se encontram bombas de gasolina. Digo: em 2025, as esquinas da cidade, pontos de encontro de marginais e mulheres no trabalho mais antigo foram tomadas pelas farmácias.
Sim, senhores, as drogarias galgaram à elite dos negócios e dominam os melhores pontos, valiosíssimos, da cidade. Repararam?
E não precisamos de quatro meses para estranhar o nosso bairro. De repente, o casario centenário vai ao chão, o tapume faz-se de muro e a placa de um novo empreendimento imobiliário, que promete alto padrão para seus moradores, surge. Não sei de onde sai tanto dinheiro para a compra de tantos imóveis.
A cidade cresce para o alto, quase galgando as nuvens. No Tatuapé, construíram o maior edifício residencial de São Paulo com cinquenta andares. Se as ruas são as mesmas, onde enfiaremos os carros? Sei, sei... o transporte urbano público está aí para isso. Mas eu trocaria o urbano por desumano. Isso vale principalmente para os que atendem às regiões mais necessitadas, onde o povo luta muito para conquistar o pão de cada dia.
Sim, Henrique. Como o Rio dos anos 50, a São Paulo de hoje é uma cidade volúvel e insatisfeita. Agora, o prefeito resolveu cavar um túnel sob a Vila Mariana. Esperneou tentando convencer a população e o Ministério Público da importância da obra.
Arrancará dezenas de árvores, como certa incorporadora fez no Alto da Lapa, para dar lugar a torres residenciais. Promete plantar novas mudas em outro bairro, para que, no futuro, quando alguém ler esta crônica, outro alcaide virá arrancá-las para outro túnel indispensável, um prédio de apartamentos ou, quem sabe, um cemitério.
 
 
Fernando Dezena
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