anunciar tabela de preços enviar notícia
rede social :: login
Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Temporal
São João da Boa Vista|cultura|05/04 10:02|68 visualizações
Estamos em abril. As águas de março fecharam o verão e o último (espero) grande temporal caiu sobre Santo André. A cidade submergiu ante a força das águas. Sempre as mesmas desgraças: carros arrastados, pessoas ilhadas, casas sem energia elétrica. O caos invade a vida de milhares de pessoas, sempre no horário mais crítico: cair da tarde. Cansado do dia de trabalho, no retorno para casa, o imprevisto. O rio Tamanduateí transbordou, ocupou o espaço que sempre foi dele. Os homens vieram, tomaram suas várzeas e o condenaram a um estreito canal. Será que não possuímos pessoas capazes de repensar as cidades? Verticalizadas, pelos lucrativos negócios imobiliários, tornam-se um monstro inabitável. De quem é a culpa?


Vindo pela Dutra, após deixar amigos em Guarulhos para o voo, vi, ao longe, as nuvens assustadoras se formarem. Na CBN, a notícia de que a chuva caía forte em áreas da região metropolitana, principalmente Mauá e ABC. No celular, a única coisa que as autoridades sabem fazer, mandar o alerta. Regozijam-se com o dever cumprido. Pelas ruas do Tatuapé, pessoas   corriam   para   se   abrigar.


Alguns traziam  guarda-chuvas, sombrinhas, outras foram pegas desprevenidas e se instalaram sob marquises, dentro de lojas, porta de restaurantes. O limpador do carro batia insistente da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, criando um ambiente de monotonia dentro do caos. O menino da escola, mochila nas costas, uniforme azul, esticava o braço para molhar a mão na enxurrada em cachoeira das telhas.


Bairros ricos sofrem transtornos, mas não há tragédia. Ela acontece nos periféricos, onde as construções improvisadas avolumam-se pela necessidade de um lar. Famílias, com tão pouco, perdem o pouco que têm. No dia seguinte, sempre há o dia seguinte, tiram a lama dos pequenos cômodos, recomeçam. Se há alguém para procurar, levado pelas águas, alguém a ser velado, sob um carro, tudo se ajeita na dor.


Depois, quietos, ao cair da tarde, quase noite, esperam a próxima chuva.
 
 
Fernando Dezena

compartinharenviar informaçõesenviar foto comentar

Comentar usando as Redes Sociais

Comentar esta notícia

comentário

(500 caracteres)

nome completo
cidade















Veja também
Últimas NotíciasRecadosClassificados ParabrisaAnuncie AgoraVenda de Garagem