Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Fernanda Torres


Deixada a bile no primeiro parágrafo, voltemos à Fernanda Torres. Feito grandioso, como Ayrton Senna, como a seleção canarinho nos velhos e bons tempos. Tudo tão perfeito que parecia um sonho. Assisti dezenas de entrevistas dela e, em cada uma, novas emoções. Que show! E o Walter Salles é outro abnegado. Roteiro baseado no livro do Marcelo Rubens Paiva, que tivemos oportunidade de entrevistar, certa vez, em uma das dezenas de terças literárias da UBE, retrata o desaparecimento e morte de seu pai, Rubens Paiva, pela sanguinária ditadura militar, que se instalou no Brasil em março de 1964 e como sua mãe, interpretada por Fernanda Torres, Eunice Paiva, lidou com o problema e criou os filhos na ausência do marido.
Já ouvi muitos relatos de quem foi aos cinemas: de choro, de gritos, revolta e antipatia. Para mim, o que mais chamou a atenção foi a capacidade de contar a história de uma mulher e sua família, em um momento trágico da vida nacional, sem nada de apelativo. Poderia ter mostrado cenas e cenas de torturas degradantes, não o fez poderia mostrar mulheres sendo seviciadas nos porões inomináveis, não o fez de corpos sendo jogados de aviões ao mar ou enterrados em valas comuns. Poderia, ainda, quando do acidente do filho, ter passado a gravidade na tela, não o fez. O peso de uma grande nuvem negra pairando durante todo o filme foi o que mais me impressionou.
PARABÉNS!
 
Fernando Dezena
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