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Dona Angelina, família Novo e o sorvete de macaúba
São João da Boa Vista|cultura|14/10 11:11|1462 visualizações
Pelas cascas da macaúba! Quem imaginaria que a polpa do coquinho de uma palmeira nativa brasileira seria o sabor de um inigualável e delicioso sorvete? Filha de imigrantes italianos, Angela Sartori Batista (1925-2004), a Dona Angelina, proprietária de sorveteria na rua Dom Pedro II, centro de São João da Boa Vista, criou a iguaria. O mingau de macaúba, relativamente comum naquele tempo, foi por ela misturado com a base usada para fazer sorvete. Deu no que deu! Era algum dia do fim dos anos 1960.
 
Daí em diante, paulistanos que veraneavam em Águas da Prata passaram a lotar a sorveteria nos finais de semana, muitas vezes levando a gostosura gelada para a capital, com a finalidade de presentear parentes e amigos. O paladar inusual caiu nas graças também dos súditos da Beloca, que colocaram o sorvete na galeria das instituições culinárias sanjoanenses.
 
A força original foi tal que um cronista, por acaso o autor destas linhas, cunhou o neologismo &ldquomacaúbico&rdquo como sinônimo de nativo de São João da Boa Vista. Escritor macaúbico, delícia macaúbica, plaga macaúbica, restaurante macaúbico, hábitos macaúbicos, academia macaúbica e por aí vai.
 
Em 1983, a lendária Dona Angelina, extenuada da faina, decidiu que era hora de passar para outras mãos a arte de fazer o também lendário sorvete.
 
Ela confiou esse tesouro das cercanias da praça da Bandeira a um jovem casal empreendedor de Santa Cruz das Palmeiras. Odécio e Carmem Novo chegaram aos Crepúsculos com o sonho de aqui fazer a vida e criar o filho único, Cleber, na ocasião com nove anos.
 
Desde então, o sorvete de macaúba &mdashsingular no mundo&mdash foi levemente aperfeiçoado e deixou de ser sazonal na carta da casa. O mestre-sorveteiro Odécio buscou conhecimento com um engenheiro de alimentos da Unicamp e desenvolveu um método para processar e congelar a polpa da macaúba. Essa técnica não vitimou o sorvete com agentes estranhos: disponível de janeiro a janeiro, ele, o macaúbico carro-chefe,  e todos os itens ali servidos são absolutamente naturais.
 
Em 2018, Odécio e Carmem comemoraram trinta e cinco anos refrescando o calor de gerações crepusculares. Aqueles fregueses dos anos oitenta nunca deixaram de frequentar a Sorveteria Macaúba, aqueles fregueses dos anos oitenta tiveram filhos e netos que também aprenderam a gostar de um dos melhores sorvetes do planeta.
 
Avesso a qualquer ação de marketing, sério, discreto, devotado à família e ao trabalho, o septuagenário Odécio filosofa: &ldquoA melhor propaganda é a qualidade do produto&rdquo.
 
Num domingo fervente de 2016, por aí, dona Carmem se mostrava preocupada: &ldquoEu e meu marido estamos cansados. Essa vida no comércio não é fácil. Um dia vamos ter que parar. Se o Cleber não quiser seguir no negócio, ou vendemos ou baixamos as portas&rdquo.
 
Águas rolaram, sorvetes derreteram e o fatigado casal sentiu o doce alívio da macaúba cremosa e gelada. Cleber e a esposa Luciene assumiram a sorveteria. O patriarca segue no apoio, ensinando e botando a mão na massa, mas as responsabilidades de balcão e gestão são da nova geração.
 
À época da passagem do bastão, Cleber refletiu: 'Tão importante quanto o ganha-pão é honrar e preservar o fruto de trinta e cinco anos de suor dos meus pais'. E mais, eu completo, honrar e preservar a magnífica concepção culinária da Dona Angelina.
 
Um pequeno estabelecimento familiar, um sorvete 100% artesanal livre de qualquer essência artificial, livre de qualquer conservante ou aditivo químico. Leite da fazenda &mdashpasteurizado, claro&mdash, frutas, açúcar, pesquisa, dedicação e paciência. E História, muita História que começou com o lampejo de Dona Angelina.


Lauro Augusto Bittencourt Borges é bancário e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Instagram: @lauroborges
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ROBERTO PITARELLO
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
14/10 14:01

DELICIA DE SORVETE, MACAUBA TEM UM SABOR TODO ESPECIAL, TENHO ÓTIMAS RECORDAÇÕES DESDE OS TEMPOS DA D. ANGELINA ATÉ O DIA DE HOJE COM MEU VELHO AMIGO ODÉCIO. SUSCESSO SEMPRE

Cliente
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
14/10 16:40

Sabor da infancia saudavel e da liberdade que tinhamos que hoje não tem mais essa tal liberdade mas o sabor continua o mesmo que mantenha essa reliquia por muitos e muitos anos .

Paulo Cesar Sassaron
Águas da Prata, SP
14/10 18:13

Belo texto, preserva a história, homenageia pessoas merecedoras e divulga um produto maravilhoso. Só tem um probleminha na diagramação do texto, uns caracteres estranhos que deixam desconfortável a leitura. &ldquo e &mdash estão espalhados no meio da publicação. Parabéns ao autor e ao veículo!

Roberto batista bertolucci
são João da boa vista
14/10 21:17

Excelente crônica.

Anônimo
15/10 08:56

A sorveteria e o sorvete de macaúba são ´"patrimônios históricos" de nossa cidade. Somos gratos ao filho por estar dando continuidade a esta doçura que já marcou tantas gerações!

Abner Lacrimanti Vallim
São João da Boa Vista, SP
15/10 17:36

Uma iguaria sem igual, lembro-me quando criança, morava ali perto, na travessa, quando D. Angelina começou a fazer o sorvete, que continua até hoje!!!

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