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Faleceu o músico e fisioterapeuta Luis Pistelli
São João da Boa Vista|comunicados|26/08 12:49|1535 visualizações
Artista, cantor, exemplo de superação Luís Carlos Pistelli faleceu na manhã de segunda feira, dia 26 de agosto Deficiente visual formou-se em fisioterapia e exercia com maestria sua profissão, mesmo sem enxergar. O sepultamento está previsto para as 16 horas. PISTELLI tinha 70 anos, era casado com Maria Angélica Vaz de Lima e residia no bairro São Benedito.
 
 
Veja a homenagem prestada pelo amigo e jornalista Clóvis Vieira.
 





Ele poderia ter sido um cego a mais na cidade. E ter nos intrigado com essa condição que gera tantas perguntas e curiosidade. Mas, não. Pistelli foi, com o seu imenso talento musical e ouvido absoluto, uma espécie de guia informal nos anos 1960 e 1970, quando a música brasileira era melhor divulgada e ele sabia tudo sobre isso. Ele poderia ter sido um cego a mais a frequentar as mesmas escolas que nós e ter esbarrado em inúmeros obstáculos que nem conseguimos evitar. Mas,não. Pistelli chegava muitas vezes de charrete no ginásio, com seu gravador de fita, sua reglete e punção, instrumentos que ampliavam sua memória das aulas e o faziam escrever em braille.


Diferente dos alunos regulares, Pistelli sempre obteve as melhores notas em todas as matérias de classe. Essa qualidade se repetiu ao longo de sua vida em universidades brasileiras e internacionais. Alguns estudantes de outras classes gostavam de perturbá-lo e ele reagia com vigor. Quando criança, vivia com o nariz quebrado porque queria andar de bicicleta e atravessar sobre duas rodas toda a úlio Vargas onde morava. Os inúmeros tombos e batidas que levou modificaram o seu perfil e o nariz ganhou volume. Por influência de sua mãe, dona Zilda, nunca se sentiu diferente de nenhum dos amiguinhos da rua.


Quando perdeu o seu primeiro e grande amigo, o Leu, num terrível acidente de avião bem em frente à própria casa, Pistelli se abateu profundamente. Tinha sido o Leu quem primeiro pegou em sua mão e o guiou pela vida sem a interferência da família, quando ainda eram adolescentes. Nunca se recuperou dessa perda. O pai, falecera antes, quando Pistelli era criança.


Ao longo de sua existência, impressionou professores e gente que o conheceu mais próximo. Era curioso sobre tudo, queria experimentar tudo, saber de tudo. Sabia tocar acordeão, violão e piano em aprendizado auto didata. Tinha muita curiosidade sobre a escaleta. Quando seguíamos juntos em direção do Instituto de Educação, com a mão esquerda dele no meu ombro direito, íamos cantarolando diversas canções, fazendo arranjos vocais improvisados. Graças a ele, consegui perder um pouco da minha insegurança e participar de festivais locais de música e outros acontecimentos artísticos com os quais nos identificávamos. Ele foi muito importante para mim nesse e em outros sentidos.


A imensa discoteca de LPs deixada a ele pelo pai, senhor Ettore, foi fonte de aprendizado para nós dois. Depois das aulas, nas quais nunca estivemos na mesma classe, voltávamos para a casa dele e gastávamos a tarde ouvindo música. Desta forma, ele se tornou referência para mim, quando o assunto era esse. Mesmo hoje, é nele quem eu penso quando ouço música que considero decente e que ele, certamente, gostaria também. A última que lhe enviei... acho que ele ouviu, porque ficou registrado na mensagem que ele a abriu. Só que nunca me respondeu com sua avaliação. Espero que tenha gostado.


Chegou um momento, nessa amizade tão próxima, que as nossas vozes, quando cantávamos, eram exatamente iguais, indistintas. Então, as vocalizações ficavam muito boas, tínhamos orgulho desse resultado.


Durante anos, na infância e adolescência, ingeriu um medicamento na esperança de que a irrigação sanguínea na região dos olhos se ampliasse e ele conseguisse, finalmente, ver. Durante anos brincou com pedra sabão, esculpindo, e com a plastilina, modelando. Estas providências tornaram mais aguçados alguns dos seus sentidos que substituíam a visão. Lia muitos livros escritos em braille, que chegavam gratuitos da Fundação Dorina Nowill, tanto os didáticos, quanto os literários. 'As Aventuras do Barão de Münchhausen' era um dos preferidos, que ele ia me contando os lances 'incríveis' que absorvia na leitura.


Teve um tempo, em que 'descobri' as maravilhas do gravador de voz que ele utilizava na escola. E passamos a criar cenas de novelas de rádio. Era diversão certa, era riso certo também, porque os enredos eram absurdos e nos faziam rir muito, muito... Prazer foi, no final dos anos 1960, nos reunir com mais dois grandes amigos e sair de Fusca para tomar sorvete em noites de sábado, numa sorveteria que tinha na rua Ademar de Barros. Hoje, vejo a profundidade e a intensidade da sintonia que houve entre nós quatro.


A diluição dessa proximidade foi acontecendo naturalmente, como acontecem com as coisas da vida. Ele casou e mudou, eu não casei e não mudei. Mas sabemos de cor as datas dos nossos aniversários. Em dezembro, vou mandar mensagem de 'Parabéns a Você' pro Pistelli. Talvez, ele não a veja, talvez ele não a responda. Eu vou saber que ele me enviou mensagem em outubro, vou ouvir a sua voz, vou me lembrar de tudo isso que aqui contei e muito mais. E vou tentar entender o que foi esse tempo com ele. Influência mútua, duradoura porque ocorreu num tempo de formação de parte da nossa personalidade. 'Eh, meu! Tempo que a gente não se vê, hein!'





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26/08 19:41

Pistelli...excelente profissional. Cuidou de mim quando estava na UTI. Deus o capacitou com o dom da música e de cuidar das pessoas.. Descanse em paz mestre .

valeria
sjbv
27/08 08:23

Pistelli foi uma pessoa impar , em todos os ambientes que passava, um grande exemplo de superação, resiliência e motivação.

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