Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva: Onde Foram os Pardais
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&mdash Parece que continuam vindo! Disse-me ela.
 
Desencanei, embora, em minha mente, corresse a preocupação de que algo terrível estava acontecendo sob o manto da cegueira humana. Envenenados? Pouco provável. Alguma doença que acomete apenas aos pardais? Difícil. Talvez um aumento considerável de pets felinos. Está na moda. Agora a matéria denunciando o desaparecimento do passarinho. Como já somos dois a detectarmos o problema, eu e o Vilardaga, acredito que o assunto mereça a atenção das autoridades. O governo federal, em parceria com o estadual e o municipal, deve, de imediato, designar uma comissão para apurar os fatos. Será? Comissões governamentais só andam se forem recheadas com polpudas verbas. Não me parece que algum parlamentar gastará a sua cota-parte de emendas para financiar os estudos que darão (ou não) uma resposta ao desaparecimento dos pardais.
 
Podem dizer, vi na reportagem que o pardal não é um espécime brasileiro, que veio importado para tentar acabar com um problema sanitário, exterminar com bicadas o Aedes aegypti. Mas, lembro a todos, que também não somos. Viemos pela ganância de nossos antepassados, ou pela fome, arrancamos das terras os povos originários e ficamos por estas bandas. Nunca se deram ao trabalho de contar os pardais, mas nós passamos de duzentos milhões. Sabe-se lá se uma praga, como a que está exterminando o bichinho, um dia, vai cair também sobre nós, forasteiros incautos.
 
São Paulo, 09 de junho de 2024.
 
Fernando Dezena é escritor
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