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Do Cafofo do Dezena - Crônica Viva - Com que roupa eu vou
São João da Boa Vista|cultura|10/02 09:44|88 visualizações
Nunca fui afeito às fantasias. Às carnavalescas, fique claro. Devemos trazer no rosto nossas preocupações e alegrias. Disfarçar?
Lembrei-me de um livro, faz tempo, que começa mais ou menos assim: um estranho chega a uma cidade, vai para o bar, conhece um homem que lhe dá o convite para uma festa. Lá, distintos moradores mascarados possuem uma linda mulher que dançava nua. Como em um ritual. Não me perguntem o resto, não me lembro. Como disse, faz tempo e gravei apenas essa cena. Perceberam que, quando queremos fazer algo errado, utilizamos máscaras? Os bandidos do velho oeste usavam um lencinho no pescoço que puxavam sobre o nariz, os ladrões de bancos do cinema americano utilizam-se de máscaras horríveis ou meias de nylon enfiadas na cabeça. Pensando bem, não só os bandidos. Batman e Robin, Zorro e outros personagens valiam-se desse artifício. Mas, os bons, para fugirem da vingança dos bandidos de plantão ou das classes dominantes. Também, tocar em paz, a vida privada. Que o diga o homem aranha.


Pensando. Se fosse obrigatório o uso das máscaras durante os quatro dias de carnaval, do que me fantasiaria? Primeiro, precisaria me decidir entre o bem e o mal: um espinho ou uma flor? Sabem como é, as fantasias servem para revelar nossos desejos recônditos. Certa vez, conto envergonhado, na escola, vida de adolescente não tem rédeas, me fantasiei de Adolf Hitler. Exatamente, e todos gritaram heil, em minha presença. Não me orgulho. Participávamos de uma gincana entre classes e deveríamos representar um personagem da história. Lá fui, e não pontuamos nesse quadro. Bem que, participávamos, mas não nos importávamos. Sentíamo-nos superiores em nossa individualidade.


Allah-la-ô, ô-ô-ô, ô-ô-ô, Mas que calor, ô-ô-ô, ô-ô-ô. Acho que estou escutando uma musiquinha. Não, não vem de agora. Puxou-me a memória as marchinhas de velhos carnavais (como disse Carlos Lyra). Já que toquei no assunto, que tal irmos para as ruas, a minha cidade tem poucas? avenidas, como um pierrô apaixonado ou um arlequim endiabrado. Faríamos quatro dias de folia. Mas que calor, ô-ô-ô, ô-ô-ô. Talvez, possamos nos vestir de príncipes árabes e redimir a humanidade. Não, vamos deixar esse negócio de salvação de lado. Não quero, como o outro árabe, daqui a quarenta dias, ser pregado na cruz. E olhem, com uma única fantasia, a coroa de espinhos. Viemos do Egito/ E muitas vezes nós tivemos que rezar/ Allah, Allah, Allah, meu bom Allah.


Fernando Dezena é escritor. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, SP, diretor da UBE União Brasileira de Escritores e provocador literário do Espaço Cultural da Boca do Leão.

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