Vizinho de décadas e meu médico pessoal, Dr. Benedito era um homem devotado ao trabalho. Lá na Tereziano Valim, era comum vê-lo saindo antes das sete da manhã e voltando só depois das dez da noite. Por isso, nossas conversas se davam quase sempre nas consultas. E, mesmo nelas, ele arranjava tempo pra um causo engraçado, sempre tinha um, contado com aquela voz grave, marcada pelo sotaque interiorano destas bandas.
 
Na nossa última conversa, comentou sobre a Venda Canta Galo, um texto que fiz registrando um boteco rural que serve comida raiz num ambiente pra lá de rústico.
 
Vou lá! Disse, animado.
 
Não sei se chegou a ir. Tenho cá comigo que esse foi mais um desejo que sucumbiu à intensidade da sua dedicação à medicina.

Vai deixar saudades  pela pessoa e pelo profissional que marcou, com afeto e competência, a vida de tanta gente.

P.S.: A cunhada Beatriz me escreveu lembrando a rotina implacável do Dr. Benedito: saía antes das sete, voltava depois das dez da noite, e mesmo de madrugada atendia urgências, cirurgias longas, chamadas inesperadas. Interrompeu inúmeras festas de família, como Natal, Páscoa e Réveillon, para cuidar dos outros. Foi, pra mim, uma mistura de pai com irmão mais velho, disse. E imagino que foi isso mesmo que ele foi para muita gente: alguém que cuidava.

Lauro Augusto Bittencourt Borges é bancário e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista - Instagram: @lauroborges